“Apenas os pequenos segredos precisam ser guardados, os grandes ninguém acredita” (H. Marshall)

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Raízes espirituais do Tantra


A filosofia tantra remonta aos primeiros séculos da Era cristã, havendo se disseminado pelo norte da Índia, vindo dali a se difundir por grande parte do Oriente. No Budismo, esta doutrina foi adaptada e associada à escola Vajrayana de iniciação, tal como o Zen, de origem chinesa, ficaria associado à escola Mahayana de compaixão, reflexos da grande capacidade sincrética do Budismo.
A palavra tantra significa “tecer” (como no anglo-germânico web, hoje tão em voga), e alude com isto às combinações de energias que trata de promover, visando sínteses e também caminhos dentro da materialidade, pois a tradição reza que os Tantras são os tratados ou os ensinamentos revelados para o Kali Yuga, a “Idade Negra” atual. Um aforismo tântrico clássico diz: “Quando se cai ao chão, usa-se o chão para se levantar”. A Idade Negra é como o “chão” da espiritualidade, quando o dharma mantém apenas 1/4 do seu vigor original. Ali a materialidade impera, e uma solução seria empregar esta mesma matéria para a elevação espiritual, através dos ritos, por exemplo, que são uma das grandes característica dos Tantras, que inclui por isto a “fisiologia oculta” dos chakras ou vórtices energéticos. Dentre os diversos ritos propostos, acha-se aquele de natureza sexual, ou Maithuna.

Contudo, apesar da tradição associar os Tantras à Idade Negra, ele também se vincula à “Idade da Prata” no sentido de envolver práticas aristocráticas, por assim dizer, aptas ao espírito guerreiro. Daí as suas raízes e popularidade no ambiente norte-indiano, mais exatamente na região de Bengala (origem das obras editadas por Sir John Woodroff), bases históricas da aristocracia árya. Além de uma complexa ritualística, o tantra caracteriza-se também pelo uso de mantras e de mandalas, assim como na importância dada ao guru.
O grande ciclo da civilização que a humanidade viveu nos últimos milênios, chamado de “o ciclo áryo”, correspondeu, acima de qualquer outra coisa, à colocação das raízes da cultura aristocrática na sociedade humana. Não que antes disto não havia clãs de guerreiros disseminados em muitas partes. Contudo, foi o ciclo áryo - árya significa “nobre”- que emprestou a esta cultura ares espirituais, desenvolvendo daí diferentes formas de luta, seja exterior em nome de dharmas sagrados, seja interior pela afirmação moral dos mesmos dharmas –tal como no duplo-conceito muçulmano de jihad, a “guerra santa”. O social, o universalismo e o mental em todos os níveis, desde o Intelecto-divino até o racional-concreto, assim como a Iniciação real ou solar e a difusão da prática da meditação, são características deste ciclo. No caso da luta interior, destina-se a conduzir à iniciação solar.

Ainda que o Bhagavad Gita não inclua práticas tântricas no seu espírito guerreiro, dentro de suas relações de iogas, é sem dúvida que o tantrismo representa uma doutrina muito apta a tudo isto. Atendo-se mais especificamente ao maithuna, também chamado de “magia sexual”, uma de suas premissas é a presença de um mestre (instrutor) acompanhando o casal. “Liberalidade” não condiz exatamente com o tantrismo como disciplina sexual mágica. Por isto mesmo, um estado de luta também representa um “estímulo” importante na contenção necessária, considerada extremamente difícil sob condições normais ou “naturais” – e este é apenas um exemplo de como emergem os valores espirituais da cultura guerreira. E neste caso, a presença do mestre auxilia na elevação das energias contidas, permitindo levar mais a sério os processos em questão. Tal coisa lembra uma frase do Mestre Morya: “a iniciação depende da presença e dois pilares: o Mestre e o Inimigo”. O Ensinamento da Agni Ioga, inspirado por este mestre, integra o contexto da iniciação solar, que é o do caminho do guerreiro espiritual de Shambala, o centro espiritual planetário supremo, que revelou as suas energias de uma forma especialmente poderosa no ciclo áryo, através do universalismo, preparando a Terra para a sua futura evolução cósmica.

O Tantrismo adquire um auge no sincretismo budismo, onde reúne as deidades iradas advindas muitas vezes de doutrinas primitivas do altiplano tibetano. Naturalmente, esta “ira” anda a par com o espírito guerreiro, não raro através da magia ritual e da luta astral travada entre a Loja Branca e a loja Negra. O Tantrismo tibetano possui sentido distinto do Tantrismo indiano, na medida em que o Budismo enriquece as suas visões. Na Índia, temos a questão do poder interior ou shakty. Já o Budismo enfatiza a importância de harmonizar a técnica e a consciência, a fim de não se ter magos negros de um lado e nem meros sonhadores de outro. No mais, somente esta harmonia pode proporcionar a verdadeira iluminação. Palavra sujeita, aliás, a interpretações várias, que no budismo se enfatiza a luz da “consciência”, enquanto o hinduísmo advaita fala do “ser”, havendo todavia aqueles métodos ocultistas tântricos tradicionais, notavelmente mais secretos no Budismo.

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